sexta-feira, junho 20, 2008

Desejo indiscreto de 12/06/ 2008


Hoje tudo o que preciso é morrer uma vida inteira desejante que não pode ser.(escrito por Bia Mara - no espetáculo do dia 12)


na foto durante espetáculo (Aldiane Dala Costa e João Pirahy- foto por Kuaray)

11 comentários:

Anônimo disse...

Colocar meus sentimentos em seus sentidos, perceber na cena aquilo que escrevi na penteadeira, de frente , eu e meus olhos de furacão, o indiscreto do outro, ao lado, me esbarra o coração, dizer a lembrança indiscreta em meio ao público, sendo eu uma privada de desejos, os sujos que escorrem com a água limpa cristalina e me acorda, fico no desejo, na vontade de ser, e, é o sonho que me lambuza.

Anônimo disse...

Um mapa de sobre a passagem nômade n’o barulho indiscreto da chuva
(escrito dia quinze de junho, um dia após minha primeira apresentação)


Mãos estancadas sobre o rosto. Morto?
Paralisia.
Angústia de saber não ter podido tocar o corpo do outro quando ele se o oferecia.
O desejo pode morrer?
E a força de estender as mãos, pode morrer?
O desejo está aí.
Mas as forças não têm tido mãos.
As forças que levam as mãos ao corpo do outro, ao rosto, ao dorso nu, ao sexo.
Lambi com os olhos seus pelos pois que era um homem muito bonito.
Já percebia desde a tarde de ontem que eu havia morrido
e depois de as pernas enfraquecerem e eu não ter noção de destino,
surgiu a mão branca de uma mulher que fez convite co’as pontas dos dedos
a mulher mais linda, depois me disseram se chamar Rúbia.
Rúbia tem que ver com rubro? De certo que sim.
Mas eram azuis seus olhos e ela me deu dois ou três goles de vida.
Segui.
Outra moça, engolida pelos carros na rua fictícia. Os passantes não a viam
desesperada, quase finda.
Um certo sol também surgia. E todos cantavam
pois sabiam que tudo que é do corpo é matéria de vida.

biamara disse...

naquela madrugada, a música falhara. eu era apenas lamento pelos cantos dos cantos. tinha chegado mais cedo em casa, mas desde o início o ruído do outro tomara conta de minha vida. o desejo havia explodido o eu que eu fosse. o espelho dessa noite marcou o tempo de minha ausência. agora mesmo que eu me olhe, não me vejo. eu não me sinto existindo.

Anônimo disse...

é demais que não me sinto existindo
e se tenho vomitado muito nas manhãs é por não haver sossego para a montanharussa que tem sido meus contraditórios
vomito sem ter nada no estômago
contei isso à médica e ela com seus tantos nomes e anos de experiência se desorganizou completamente, ela não entendia um vômito que escapasse à sua lógica causa e efeito
naquela madrugada eu em meu lugar lembrei do passado em que cria poder existir e vou hoje morrendo sem ter nascido

biamara disse...

num mundo, cujo fundamento era a mentira, ela era muda. ela não quisera mentir. não quisera aprender a mentir. não aprendera que a mentira salva - um amigo lhe revelou.como ela era macabéa, substituíra a fala pelo vômito. como ela era simples, sentira-se constrangida a silenciar todos os cantos. Mas quando o outro chegava e entrava repentinamente por alguma fenda inesperada de seu corpo, ela passava madrugadas vomitando.

Anônimo disse...

quando se dá um tiro pelo ouvido da normalidade, em quanto tempo se renasce para algum lugar fora do mundo? eu já nem sou um inteiro, já só sou a enorme fenda, falta pouco, muito pouco. . e morrerei para isso tudo.
a morte é uma bênção.

Anônimo disse...

o outro que sou mas não posso, briga comigo o que posso
o que surto o que fumo
e o que não faço.
mas posso no raio do dia
cuecas calcinhas puteiros.

biamara disse...

o outro pensa ser em mim o outro que eu não sou. o outro que não sou grita em mim o que não sou não sou não sou e ao fim e ao início dos dias eu sou também aquele que eu penso que não sou.

Anônimo disse...

na possibilidade dele tomar-me o pescoço, entrar-me pela boca tais engulhos, tal peito queimando a decadência do ser mais evidente renegado. este outro, este eu... que nunca chega no portão. um saudoso avesso na superfície marítima.

Anônimo disse...

"sendo não sou estou indo .. caminho"

biamara disse...

este outro, este eu que não se achega
toca o sino da minha casa
deseja se lançar no peito do mar ser tomado pelo canto das sereias que no começo
esse desejo indiscreto de 12/06/2008 escapou das ondas